quinta-feira, 7 de junho de 2007

O Manganês

Se por um lado, o estado do Amapá possui sérios problemas de infra-estrutura básica, por outro lado, detém riquezas incomensuráveis tanto acima quanto abaixo do solo, que se manejadas adequadamente, podem gerar recursos substanciais para o desenvolvimento sustentável de seus cidadãos. A existência de um representativo potencial mineral, ainda não avaliado na extensão de suas reservas e nem explorado corretamente com sua significação econômica, predispõe o Amapá como região propícia para o desenvolvimento da indústria extrativa mineral. Esta peculiaridade, no entanto, representada pela existência de manganês, ouro, caulim, tantalita, columbita, cassiterita, bauxita, ferro, eremita, etc... durante muito tempo pouco incentivou o empresariado do setor a investir na pesquisa e/ou exploração desses minerais. Tanto que, desde a década de 50 até os fins dos anos 80, registra-se apenas a ICOMI, como empresa de grande porte atuando no Amapá, na extração do minério do manganês da Serra do Navio, além de pequenos serviços de garimpagem do ouro em diversos pontos do estado, sendo a de maior importância a do eixo Lourenço-Cassiporé.

Somente na década de 80, a mineração do Amapá ganhou maior expressão no contexto sócio-econômico, expandindo sua área de exploração e ganhando maior representatividade como geradora de emprego e renda. Para isso, muito influiu a descoberta de novos veios auríferos no município de Calçoene e Oiapoque, que motivou a vinda de grandes levas de garimpeiros de todo o Brasil, como influenciou também no ânimo do empresariado do setor para investimentos representativos em pesquisa e, exploração não só de ouro, mas de outros minerais, inclusive os não metálicos.

O potencial mineral também parcialmente avaliado, quanto a importância e grandeza de suas reservas, significa outra fonte de riqueza de grande expressão econômica para o desenvolvimento da região. Em termos de produção, atualmente, os minerais que mais se destacam são: o ouro, o manganês e o caulim. As maiores reservas de ouro do Amapá estão localizadas no município de Calçoene com maior exploração nos garimpos de Lourenço. Regiões onde é praticada tal atividade: Lourenço-Cassiporé, Mapari, Tartarugalzinho, Araguari-Amapari, Vila Nova, Cajari e Oiapoque. Na maioria dessas regiões é praticada atividade semi-mecanizada.

As reservas atuais do manganês, que somam 9,3 milhões de toneladas, permitindo uma vida útil da mina até o ano de 2003, estão localizadas no município de Serra do Navio, sendo que os principais compradores de minério são: Estados Unidos, Inglaterra, Japão e Romênia. Dentre os outros minerais, destacam-se a cassiterita (Amapari e Araguari) e a tantalita (Amaparai, Araguari, Vila Nova, e serra do Tumucumaque), ambas produzidas a partir de garimpagem. A prata é extraída como: subproduto da mineração industrial do ouro. Destacam-se ainda, entre esses, os materiais utilizados na construção civil.

Os compostos de manganésio já eram utilizados na Antiguidade, sendo no entanto difícil afirmar quando se começaram a usar, uma vez que eram confundidos com os compostos de ferro e outros elementos. Já Plínio, na era romana, menciona o seu emprego sob o nome de "magnes", considerando-o uma variedade de magnetite, um mineral magnético de ferro. Mais tarde, em livros do fim do século XVII, o termo "magnesia" era usado como sinônimo de óxido de manganêsio. J. H. Pott (1740) provou que a pirolusite (dióxido de manganêsio) não continha ferro, como se acreditava até então, e produzia sais bastante diferentes daqueles obtidos a partir dos óxidos de ferro. C. W. Carl Wilhelm Scheele , em 1774, distinguiu a magnetite da pirolusite, tendo no mesmo ano o seu colaborador Johann Gottlieb Gahn conseguido isolar o manganêsio. O seu nome deriva do latim magnes e refere-se às propriedades magnéticas exibidas pela pirolusite.

O manganês tem um uso essencial na produção industrial da sociedade moderna. Sua principal aplicação está associada à produção de ferro e aço, na qual não tem um substituto que se aproxime de seu desempenho técnico e de suas vantagens econômicas. Diversas outras aplicações utilizam o manganês e seus produtos, tanto como componente de produtos, como para insumo de processos. É de grande destaque sua participação na composição de fertilizantes, ração animal e fabricação de pilhas.

Elemento químico, do símbolo Mn, do grupo VIIb da tabela periódica, dos metais de transição. Possui coloração cinza clara, quebradiço, porém, com alto grau de dureza. Quimicamente ativo, é corrosível pelo ar úmido e por muitas soluções. Se por um lado, cada uso requer certas especificações físicas e químicas da matéria-prima, tanto em ralação ao seu conteúdo útil, como ao seu conteúdo de impurezas e contaminantes, por outro lado, o manganês é obtido de depósitos que ocorrem naturalmente na crosta da Terra, cuja composição é resultado de uma complexa mineralogia representada pela presença possível de mais de 300 espécies minerais fazendo com que, mesmo dentro de um depósito ocorram minerais de composição muito variável. Os átomos de manganês, eletricamente neutros, possuem 25 elétrons e 25 prótons. A temperatura ambiente, o elemento puro se apresenta em estado sólido. O isótopo mais abundante, de peso atômico 55, contém trinta neutros e cristaliza habitualmente na forma cúbica. O manganês não apresenta magnetismo, mas diversos compostos magnéticos, como os boretos e nitretos. As chamadas ligas de Heusler – de manganês, cobre e alumínio – encontram-se entre as mais magnéticas das ligas não ferrosas. Combinados com outros elementos, o manganês encontra-se bem distribuído pela superfície terrestre na forma de minerais como a pirolusita (essencialmente dióxido de manganês) e psilomelamita, e, em menor quantidade, como carbono rodocrosita e silicato (radonita). Essencial no crescimento de plantas e na ação de muitas enzimas de organismos superiores, o manganês em excesso também pode ser tóxico para vegetais e animais. Sua carência pode provocar atrofia testicular.

Dentre o grande número de compostos de manganês, destacam-se os sais: mangnatos e permanganatos. O permanganato de potássio, de cor violeta escura, é muito usado por suas propriedades oxidantes e desinfetantes. Porém, mais de 95% do manganês utilizado industrialmente é consumido na indústria metalúrgica, sobretudo na redução do aço. Entre os compostos de importância industrial inclui-se o sulfato, usado com fertilizante, o naftenato e o resinato, empregados como secantes em tintas e vernizes. O dióxido de manganês serve para fabricar pilhas secas, e outros compostos são usados na produção de vidro. O encontro entre as características mais ajustadas a cada aplicação industrial e as mais adequadas às possibilidades de produção de matérias-primas de cada depósito, pode, não só, ser um importante elemento de competitividade, como um fator de aumento do valor do produto melhorando viabilidade econômica da lavra. Isso só será possível se houver um maior conhecimento entre a assinatura geoquímica das diferentes porções de cada tipo de depósito de manganês, e as características químicas e físicas requeridas pelos seus diversos usos.

As rochas de Serra do Navio têm idade Precambriana, com aproximadamente 1,8 bilhões de anos. Ali ocorrem gnaisses e granitos, lavas máficas metamorfisadas em anfibolito e duas unidades de sedimentos finos a químicos metamorfisados em xistos e mármores. Na unidade inferior de sedimentos há níveis de mármores manganesíferos. Devido a pluviosidade, às altas temperaturas e à acidez das águas, essas rochas estão intensamente decompostas, com a alteração chegando a mais de 100m de profundidade. Nessas condições, durante a alteração de muitos elementos químicos das rochas, como o potássio, o sódio, o cálcio e outros, são removidos com a água do subsolo. Outros elementos, como o ferro, o alumínio e o manganês, após dissolução inicial permanecem em forma solúvel ou formam colóides e cristalizam e ou consolidam como óxidos e hidróxidos, num processo que chega a formar, respectivamente, carapaças de laterita, de bauxita e de minério de manganês. Vários elementos, como o arsênio e o cobalto, são retidos e concentram-se nos óxidos e hidróxidos de ferro de manganês.

Há dois tipos de minério em Serra do Navio. Um primário, ou inicial, formado pelas camadas do mármore manganesífero e um secundário, ou óxido, formado por massas de óxidos e hidróxidos de manganês. O minério carbonático ocorre em profundidade, abaixo do nível de água freático, e contêm carbonato (rodocrosita) e silicatos (espessartita e tefroita) de manganês, mais quantidades traço de sulfetos de zinco, de cobalto e de níquel. Possui de 20% a 32% de manganês. Os xistos adjacentes aos mármores contêm quantidades traço de sulfetos de ferro e de cobre, os quais possuem concentrações traço de arsênio. Em nenhuma dessas rochas foi visto o mineral arsenopirita, que é o mineral mais comum de arsênio em depósitos ricos de sulfetos. O minério óxido é formado pela intemperização dos mármores manganesíferos, num processo que ocorre hoje. Quando a rocha é decomposta e a maioria dos demais elementos são removidos em solução, o manganês é oxidado pelas águas pluviais e hidrolizado e, freqüentemente passando por uma fase coloidal, deposita como óxidos e hidróxidos nos espaços ocupados anteriormente pelos carbonatos e silicatos. Os teores resultantes variam de 32 a 52% de manganês.

O minério óxido é constituído de minerais manganesíferos como pirolusita (óxido), psilomelana (hidróxido de manganês e bário), litioforita (hidróxido de manganês), associados a quantidades menores de limonita (óxido de ferro), goethita (hidróxido de ferro) gibbsita (óxido de alumínio), argilas, sílica e outros minerais secundários. O arsênio derivado das rochas próximas aos mármores fica retido na estrutura cristalina dos óxidos e hidróxidos de ferro e manganês. Como se formaram nas condições ambientais atuais, os minerais de minério óxido são muito estáveis e o arsênio neles contido não é liberado em condições normais. Há, inclusive, boa relação entre os teores de manganês e arsênio, com o minério de 48% sempre contendo entre 0,17 e 0,18% de arsênio.

Mas para poder ser extraído da crosta terrestre do Amapá, o manganês percorreu um longo caminho provavelmente depois que dois pedaços da crosta terrestre se chocaram. Como um deles era mais leve, entrou embaixo do outro. Desceu tanto que alcançou algumas camadas inferiores da Terra. Com o atrito a temperatura e a pressão aumentaram nas profundezas, e uma parte das rochas derreteu. O material acabou subindo para a superfície, formando centenas de vulcões.A lava dos vulcões era uma mistura de rochas derretidas e metais presa em regiões mais profundas. Mas eles não saíram todos de uma vez. Cada metal tem um ponto de fusão, ou seja, precisa de uma quantidade exata de calor para derreter. O ouro é o primeiro a derreter e subir pelo buraco interno do vulcão. Muitas vezes nem chega a ser cuspido e pára no interior do canal. Também costuma subir até a boca do vulcão e se infiltrar em fissuras das proximidades. É sempre mais fácil encontrar ouro perto de uma ex-cratera. Quase junto com o ouro vem o cobre. Por isso, eles geralmente aparecem próximos um do outro. Muitas jazidas misturam os dois metais. Depois, saem o zinco, o chumbo e o ferro.

O manganês é o último a sair. É o que vai parar mais longe da boca do vulcão.

Os metais foram esfriando e formando blocos no chão ou na montanha criada pelo vulcão extinto. Estima-se em mais ou menos 200 milhões de anos para o processo de deposição dos metais. Com a ação da chuva, do vento e do ambiente, a região foi sofrendo mudanças e algumas reservas, antes profundas, ficaram praticamente expostas e outras foram sendo enterradas pela deposição de sedimentos. Uma densa vegetação cresceu sobre toda a jazida menos onde existe ferro.

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